segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Cap.9 - Lugares altos

"O Senhor, o soberano, é a minha força, ele faz os meus pés como os da corça, faz-me andar em lugares altos". (Habacuque 3:19)

Os dias cheios de atividades faziam com que as semanas passassem rapidamente.
As aulas dele aconteciam a todo vapor, todos os dias, enquanto ela cuidava da casa e do filho. 

Duas vezes por semana ela tinha aulas e deixava o seu filho com uma mulher, também aluna casada, que cuidava dele com amor e muito carinho. Com o passar do tempo ambas se tornaram amigas, frequentando os mesmos grupos de comunhão e estudos.

Certa noite, enquanto fazia seu tempo devocional, ela orou por aquela amiga. Durante sua oração, veio forte em seu coração o texto de Habacuque 3: 17 a 19. Ela abriu a Bíblia, leu aquele texto e guardou a referência em seu coração, para lê-lo para a sua amiga no dia seguinte.

O dia amanheceu. No final da tarde teve uma reunião gostosa de estudo e comunhão na casa de sua amiga e ela foi, levando consigo o texto que Deus havia colocado em seu coração na noite anterior. Era a primeira vez em que ia naquela casa. Uma casa linda, muito grande, com muitos cômodos e muito bem decorada. 

- Esta casa realmente não condiz com o estilo de vida que minha amiga e seu marido têm, uma vida simples e sem regalias. Não estou entendendo muito bem... - ela pensou, sem fazer nenhum tipo de julgamento.

No início da reunião, uma surpresa: sua amiga havia preparado um testemunho pessoal, contando detalhes de sua vida e sua trajetória com Deus até ali. 

Contou que nasceu cega e que anos depois entregou sua vida à Jesus, dizendo a Ele que queria fazer diferença na vida dos menos favorecidos. Sua cegueira a atrapalhava muito, mas depois de um tempo Deus a curou. Seu desejo era o de ter muitos filhos, se casar com alguém que também amasse a Deus, para servirem juntos no ministério. Ainda muito nova, casou-se crendo que seus desejos seriam realizados. Porém, seu marido subiu muito de posição no trabalho, deixando sua família de lado para crescer profissionalmente. Trabalhando para uma grande empresa, enriqueceu-se e passou a viajar muito, andar em carros blindados e com seguranças, enquanto sua esposa criava praticamente sozinha os seus 3 filhos em uma mansão que ela mesma chamava de "mausoléu".

Seu casamento beirava a ruína, foram 20 anos de luta para mantê-lo enquanto tinham tudo o que o dinheiro poderia comprar. Eles se separaram. Ela foi morar com o filho no Canadá, entrou em depressão, parou de se alimentar e começou a morrer. Só um milagre salvaria a sua vida e seu casamento. E foi através de um milagre que tudo começou a se transformar. Seu marido foi tocado por Deus e decidiu lutar pelo seu casamento! Quando ele perguntou sobre o que precisava ser feito para que ela acreditasse que ele realmente queria reconstruir o seu relacionamento, ela respondeu prontamente: "largue esse maldito dinheiro!". Ele largou. Eles começaram a namorar, noivaram e se casaram novamente, pela internet, com juiz e testemunhas! Ele deixou seu emprego e se decidiu por seguir o ministério em tempo integral. Foram para o seminário e compraram aquela casa, usando o restante do dinheiro para manterem-se lá e pagarem os estudos dos filhos. Quando terminou de contar o testemunho, contou também que o dinheiro que restou estava acabando e que, provavelmente, teriam que viver de ofertas a partir dali.

Enquanto ela ouvia aquele testemunho incrível de sua amiga, chorava muito, emocionada por tudo o que Deus havia feito na vida daquela família. Chorava por ver que Deus também tinha um plano lindo ao colocar o seu filho nos braços daquela mulher e daquele homem que, em tempos passados, não haviam cuidado de seus próprios filhos juntos! Chorava também porque não imaginava que fosse ouvir aquele testemunho, sendo que o texto que Deus havia colocado em seu coração na noite anterior tinha tudo a ver com a história que havia acabado de ouvir.

Ela não havia levado sua bíblia, então pediu para que sua amiga emprestasse a dela. Quando abriu o texto, viu que ele estava sublinhado e grifado. Aquele texto era importante e já fazia parte da vida de sua amiga. Começou a chorar ainda mais. Era um daqueles momentos em que Deus faz algo e deixa todos perplexos. O texto de Habacuque 3:17 a 19 dizia:

"Mesmo não florescendo a figueira e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando as safras de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. O Senhor, o soberano, é a minha força, ele faz os meus pés como os da corça, faz-me andar em lugares altos".

Semanas se passaram. O aniversário de sua amiga chegou e foi dada uma festa em comemoração a tudo o que Deus estava fazendo com sua família. Antes do momento do louvor, a aniversariante leu um texto que, segundo ela, falava fundo ao seu coração, trazia paz e esperança, relembrando-a da fidelidade e do amor de Deus por ela. Um texto que fazia com que jamais se esquecesse de que Deus é quem a sustenta e é a Ele que ela deve dar toda honra, glória e louvor, pra sempre. Um texto que a acompanhava por anos e anos. O texto lido foi Habacuque 3:17-19.

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cap.8 - Mamãe acordou

"Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou." (Salmos 3:5)

Já há alguns meses moravam lá. O dia-a-dia era gostoso, mesmo com tantos desafios e uma rotina tão diferente de tudo o que já haviam vivido.

Certo dia, ela teria que ficar sozinha em casa com seu filho que havia tido febre na noite anterior. Todos do seminário iriam para um outro lugar realizar um trabalho especial durante todo o dia e seu marido também iria. O lugar ficaria vazio e solitário. Era a primeira vez que ficaria sozinha dessa maneira por lá.

Ela acordou, cuidou de seu filhinho e então foi tomar alguma coisa. Tirou uma caixinha de "leite de soja com abacaxi e hortelã" da geladeira, colocou o suco no copo e tomou dois goles. O filho começou a chorar e então ela foi socorrê-lo, esquecendo-se de terminar o seu café da manhã. Seu marido arrumava as coisas para sair.

Depois de quinze minutos ela começou a sentir uma coceira estranha nas pernas. Começou bem pequena, em algumas partes, mas depois foi aumentando... Quando percebeu, em menos de 5 minutos seu corpo estava todo inchado, cheio de brotoejas enormes. Eles não tinham plano de saúde local e o pronto socorro ficava muito longe. Além disso, a demora seria muito grande para atendê-los, pois o PS já era conhecido por essa característica. Apavorada, foi levada rapidamente pelo marido à única casa onde havia alguém: a casa de uma mulher que era enfermeira-padrão. Chegando lá, o diagnóstico foi o de uma terrível reação alérgica.

- O que você comeu?
- Nada! Acordei e tomei dois goles de leite de soja com sabor de frutas, só isso.
- Foi algo que você toma frequentemente?
- Não, eu nunca havia tomado daquela marca e daquele sabor.
- Então foi isso. Provavelmente o seu corpo desencadeou essa reação ao produto.

A enfermeira a medicou e disse:

- Fique atenta. Com a ingestão desse remédio você terá que melhorar. Se piorar, procure imediatamente um médico. Se a reação alérgica não for contida, poderá acontecer em seu corpo por dentro também e poderá fechar a sua garganta. Se fechar a garganta será muito perigoso, você não conseguirá engolir ou respirar. Não brinque com isso, ok? Preciso ir agora, eu e minha família temos um compromisso na cidade. Só fique aqui sozinha se você tiver certeza de que estará bem.

Ela voltou pra casa agradecendo a Deus por ter sido tão prontamente medicada. Aquela enfermeira-padrão havia se formado nos Estados Unidos e lá esses profissionais sabem tanto quanto um médico. Ficou tranquila e foi pra casa. As coceiras começaram a diminuir e ela entendeu que realmente estava melhorando, sentindo-se segura para ficar sozinha em casa.

- Você tem certeza de que está melhor?
- Tenho, querido, fique sossegado. Já estou melhorando.
- Posso ir mesmo?
- Pode, não se preocupe.

Seu marido pegou o carro e foi embora. Tudo parecia sob controle.

Foi quando, de repente, as brotoejas começaram a aumentar e a coceira passou a ser insuportável. Seu corpo todo coçava, da cabeça aos pés. Uma tosse estranha começou a aparecer, junto com um aperto na garganta. Ela começou a se sentir muito mal, com uma tontura terrível, uma dor de cabeça insuportável, coceira nos ouvidos, nos olhos e por dentro da boca. Já não conseguia mais engolir direito, a sensação era a de que a garganta estava se fechando. Tudo estava acontecendo muito, muito rápido! Até que começou a sentir uma dificuldade enorme para respirar.

Não havia mais ninguém por lá, nem mesmo a enfermeira.
Ela estava sozinha com o seu filho que brincava sossegadamente em seu quarto, sem perceber nada.
Já quase fora de si, sem conseguir respirar, colocou uma mão no pescoço e outra na cabeça.
Com o pouco de fôlego que restava, clamou:

- Meu Deus, me ajude! Preciso de sua cura imediatamente! Senhor, tem misericórdia de mim!

Ela chegou a perder os sentidos.

Quando abriu os olhos, estava deitada no chão. Olhou para o relógio e viu que havia se passado 10 minutos. Seu filho estava fazendo carinho em seu rosto, dizendo "mamãe, acóda"... As coceiras haviam cessado, a garganta estava normal, a respiração havia voltado, as dores terminaram.

- Mamãe acodô?
- Sim, meu amor. A mamãe acordou. Eu te amo!

Ela o abraçou, chorando.

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Cap.7 - Finalmente, lar doce lar.

"Grandes coisas fez o senhor por nós, por isso estamos alegres". (Salmos 126:3)

Parecia que esse dia nunca chegaria, mas chegou. Lá estavam eles, na nova cidade, na nova casa, começando uma nova vida. Deus havia feito coisas maravilhosas em suas vidas até ali, coisas pelas quais eram extremamente gratos. Agora se preparavam para novos tempos com Ele.

Chegaram um mês antes de todo mundo, para arrumarem tudo a tempo.

Acordar ao som de passarinhos não era algo comum a eles, mas passou a ser. Diariamente ouviam e viam várias espécies: maritacas, pica-paus, quero-queros, andorinhas e mais... O cheiro de terra e grama, o vento abundante que entrava e saía pelas janelas, a paisagem verde que envolvia todos os arredores, tudo isso era muito bom mas ao mesmo tempo estranho para aquela família que havia morado por nove anos em uma cidade turística e litorânea. Mas estranho mesmo era precisar encarar quatro lances de escada no prédio para chegar ao apartamento. Todo dia. Várias vezes ao dia.

Aos poucos foram conhecendo gente, conhecendo a vizinhança e conhecendo a rotina do dia-a-dia. Quando as aulas começaram tudo ficou diferente. Muitas pessoas morando nos apartamentos e prédios vizinhos, muita conversa, muitas tarefas e estudos, muitos compromissos. Amizades começaram a se formar, gente que eles nem imaginavam que marcariam suas vidas para sempre.

Ele estudava muito, lia muito, fazia muitos trabalhos. Aquele homem que trabalhou por 14 anos em São Paulo em grandes empresas, agora era um estudante. E qual não foi a surpresa quando perceberam que ele, mesmo tendo estado por tanto tempo longe da vida acadêmica (e já não sendo mais tão jovem), estava dando conta de tudo! Além disso ele realizava muitas tarefas, tarefinhas e tarefões! Fazia educação física, jogava volei, futebol, basquete e dava muitas voltas ao redor do lindo lago que havia lá perto. Mas também limpava, varria, esfregava. Ninguém disse que seria fácil... Ela, que também era formada e trabalhava como autônoma há 8 anos, agora fazia algumas matérias, participava de reuniões, fazia alguns trabalhos freelance, cuidava da casa, cuidava do filho.

Ah, o filho! Esse menininho era mesmo muito especial. Estava com quase dois aninhos, era esperto e muito feliz. Estava naquela fase de falar muito e de fazer gracinhas. Mas a grande felicidade de sua mãe era vê-lo brincando com os amiguinhos que fez ali. 

Um dos maiores medos daquela mãe era o de criá-lo sozinho, sem que ele tivesse crianças com quem interagir. Ela orou muito a Deus para que trouxesse alguns amiguinhos até ele. Meses antes, quando participaram do retiro vocacional, seu coração ficou apertado... Não via nenhuma criança! Continuou orando, pedindo a Deus que desse ao seu filho pelo menos um amiguinho. Na última noite do retiro, durante o louvor no culto de despedida, uma moça parou ao lado dela. Em seu colo, uma menininha de quase dois anos.

- Oi, tudo bem?
- Tudo! Você mora aqui?
- Sim, moro! Moro em um prédio de dois andares, perto dos prédios de 3 andares. Meu marido é seminarista aqui, está indo para o segundo ano.
- Então você estará aqui ano que vem? Você e sua filhinha?
- Sim. Vocês virão pra cá no ano que vem?
- Sim!
- Ah, que bom! Minha filha não tem ninguém da idade dela pra brincar, com certeza nossos filhos serão bons amigos!

Não só os filhos, mas as mães também se tornaram grandes amigas. E outros casais chegaram com filhos pequenos, todos morando por ali. Deus havia atendido o clamor do coração aflito daquela mãe, fazendo muito mais do que ela poderia imaginar.

E assim Deus foi abençoando aquela família. Mal sabiam eles que aquele era só o começo de anos que viriam cheios de experiências profundas e surpresas sobrenaturais reservadas por Deus.


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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Cap.6 - A hora da partida

"Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus". (II Coríntios 3:5)

Enfim, chegou o momento de dizer adeus.
Adeus para a maneira como viveram até ali.
Naquele último final de semana eles haviam se despedido de sua igreja, de seus amigos e de sua família. Os jovens fizeram uma despedida especial no sábado. No domingo o pastor os chamou na frente da igreja para serem enviados oficialmente. Eles contaram um pouco do que estavam vivendo, expressaram o amor que sentiam por aquele lugar e por aquelas pessoas e falaram sobre o desejo de voltar para lá futuramente. Se despediram e, ajoelhados, receberam a bênção.

Naquele momento, o tempo parou. Um filme passou na cabeça do casal. Ele, de cabeça baixa, pensava em tudo o que viveu desde o dia em que tomou a decisão de mudar o rumo de sua vida. Pensava em seus dias passados, nas experiências que havia tido e em tudo o que Deus havia lhe falado. Ela chorava, relembrando o dia em que entregou a sua vida a Jesus, aos 6 anos. Ainda criança, ela havia dito a Deus que queria ser uma missionariazinha. Várias outras vezes, adolescente, jovem e adulta, ela reafirmou esse desejo. Orava para que Deus fizesse dela o que quisesse e a levasse onde desejasse. Ao abrir os olhos, viu o seu filhinho ali também, entre eles, sendo igualmente enviado. Precisou segurar a emoção para que não chorasse o tempo todo.

Ao final do culto, muitos abraços apertados, choros compulsivos, lágrimas encharcadas de saudade... Palavras de apoio, de ânimo e de esperança envolvidas pela dor da saudade que já chegava. Como ficar longe de tanta gente amada? Só Deus para dar forças naquele momento.

Tudo já havia sido encaixotado e colocado no caminhão de mudanças.

A esposa estava com uma gripe muito forte, com febre e dores. Seu filhinho também estava com gripe forte. O marido estava com muitas dores nas costas e no corpo. As emoções eram tantas que a imunidade deles baixou.

Olharam para aquele apartamento onde foram tão felizes. Se lembraram de tantas situações vividas ali, abraçaram-se, olharam-se, respiraram fundo e saíram. Fecharam a porta para nunca mais voltar.
Seus olhos, a partir daquele momento, estariam voltados para outros lugares, para outras coisas, para novas experiências.

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